Delegados relatam cotidiano de caos, pressão e exaustão na Polícia Civil de Campinas

Delegados da Polícia Civil, promotores de Justiça e membros do Conselho Municipal de Segurança Pública de Campinas se reuniram, na manhã desta terça-feira (28/5), para debater o caos que vive a Polícia Civil de Campinas. Além da falta de profissionais, as jornadas exaustivas e as precárias condições de trabalho estão levando os policiais civis à exaustão. A promotora Cristiane Corrêa de Souza Hillal, autora de uma ação civil pública pedindo que o Governo do Estado de SP aumente a estrutura da Polícia Civil, destacou o esgotamento físico e mental dos policiais e informou que solicitou à Secretaria de Segurança Pública (SSP) dados sobre afastamentos e licenças de policiais decorrentes de problemas psicológicos. “Os suicídios aumentaram, tivemos um caso aqui em Campinas. Não é possível que isso aconteça, que os profissionais se sintam tão desgastados, desamparados e abandonados e que acabem impedidos de realizar suas tarefas no dia a dia”, afirmou.

A presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (SINDPESP), Raquel Kobashi Gallinati, ressaltou o sofrimento da categoria. “Normas internacionais do Direito do Trabalho são desrespeitadas, principalmente nas regiões do interior, por causa do déficit. O policial civil fica 24 horas de sobreaviso initerruptamente, a semana toda, descansando uma vez no mês. E a consequência disso é o stress”, argumentou.

No encontro, que aconteceu na 1ª Delegacia Seccional de Campinas, policiais e sindicato traçaram um panorama sobre o abandono da categoria em Campinas. “Estamos vivendo uma situação de descaso, de incompetência, de desleixo e de amadorismo por parte do governo em relação à Polícia Civil do Estado de São Paulo. A Polícia Civil não tem estrutura para que os policiais possam trabalhar de acordo com a sua potencialidade. Muitas vezes, nós nos sentimos limitados e até impedidos de exercer nossas funções constitucionais, seja pelo déficit, que totaliza quase 13 mil, seja pela falta de estrutura, seja pelo salário”, afirmou Raquel.

O delegado aposentado e advogado do Sindicato dos Policiais Civis de Campinas, Carlos Henrique Fernandes, classificou a situação da Polícia Civil como caótica. E afirmou que os policiais trabalham sob extrema pressão. “Esse quadro verdadeiramente caótico tem feito com que não se consiga dar atendimento a toda demanda que existe de Polícia Judiciária”, afirmou.

O delegado responsável pela 2ªSeccional de Campinas, Aldo Galiano, reclamou da falta de policiais: “Na 2 ªSeccional, não temos uma equipe de chefia para trabalhar adequadamente. Nós temos o presídio em Sumaré, em Hortolândia, temos muitas ocorrências de tráfico de entorpecentes e uma média de 13 homicídios por mês na área, temos facções criminosas, o PCC disputando espaço do tráfico. É um mundo inexplorado e parece que o governo não acorda.”

A presidente do SINDPESP lembrou que a falta de reposição salarial é uma forma de desprestigiar e de impedir a categoria de trabalhar adequadamente. “Desde que o governo atual assumiu, só fez promessas, mas não colocou prazos. Este governo piorou a forma como o policial civil pode trabalhar. Ele piorou as nossas condições de trabalho a partir do momento em que colocou mais carga de trabalho. E se a Polícia Civil de São Paulo ainda faz hoje um dos melhores trabalhos da América Latina, é graças ao heroísmo e comprometimento dos policiais que integram a instituição”.

Raquel destacou, ainda, a falta de coletes à prova de balas, armas e munições para a Polícia Civil. “É inadmissível o policial civil não ter arma e colete balístico para trabalhar. Aqui no estado de São Paulo, somos 28 mil policiais e temos 12.900 coletes dentro do prazo de validade”, denunciou.

A promotora Cristiane destacou que o enfraquecimento das polícias Civil e Militares comprometem o Judiciário como um todo: “De nada adianta termos muitos promotores e juízes de direito se não tivermos uma PM e uma Polícia Civil bem estruturada e com capacidade para atender a população”, disse.

Marcos Alves Ferreira, presidente do Conseg, ressaltou a importância de investir em investigação criminal para garantir a segurança da população e afirmou que os policiais de Campinas estão trabalhando além de sua capacidade. “Temos acompanhado uma legião de profissionais abnegados e competentes que estão produzindo além da sua capacidade, cujos resultados permitem que políticos em campanha enalteçam a segurança pública de São Paulo e seus índices criminais, se comparados com outros estados da Federação. Mas, o que temos acompanhado na mídia é que, em SP, o estado mais rico da federação, o salário da Polícia Civil está abaixo da média nacional”, completou.

Ação civil

O problema da falta de policiais é antigo. Em 2016, o SINDPESP entrou com uma ação pedindo que o Governo do Estado reponha os cargos abertos. “Nós obtivemos em 2017 um parecer positivo para a contratação imediata e a aplicação de multa em caso de descumprimento”, lembra a presidente do Sindicato.

No ano passado, o Ministério Público de Campinas interpôs uma ação civil pública solicitando o envio para a cidade de 17 delegados, 50 escrivães, 91 investigadores, 30 agentes policiais, 4 carcereiros, 12 agentes de telecomunicação, 3 auxiliares de papiloscopia e 1 papiloscopista.

DDM

Uma das maiores reivindicações na segurança pública em Campinas é o funcionamento 24 horas, inclusive nos finais de semana, da Delegacias de Defesa da Mulher (DDM). A medida, que é importante no combate à violência contra a mulher, ainda está na promessa e não tem previsão de implantação. O motivo é a falta de policiais. A presidente do SINDPESP afirma que o funcionamento das especializadas 24 horas é inviável com a estrutura existente hoje na Polícia Civil. “Nós defendemos um trabalho especializado da Polícia Civil, mas não temos policiais suficientes para o atendimento das delegacias de bairro. O governo tem que dar estrutura”.

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