O homem tem duas filhas: uma em colégio particular, a outra na escola pública. O nome do pai é Governo do Estado. A primeira filha chama-se Polícia Militar. A outra, Polícia Civil.
A comparação pode parecer exagerada, mas na unidade mais rica da federação, a discrepância de tratamento dispensado pelo Executivo estadual às polícias Civil e Militar é flagrante.
Em comparação com a Civil, a PM ainda recebe alguns recursos materiais e humanos para a reposição e ampliação de seus quadros, o que demonstra pretensa preocupação do Estado para com a segurança pública. Preocupação pretensa porque o mesmo não se verifica em relação à Polícia Civil, cada vez mais sucateada com a diminuição acentuada de seu efetivo ao longo de mais de duas décadas.
Isto sem enveredar nas carências de ordem material, evidenciadas nesta semana no e-mail do delegado geral adjunto aos delegados diretores de departamento, solicitando-lhes propostas para o contingenciamento de despesas.
A falta de pessoal na Polícia Civil é tamanha que unidades estão fechando e outras funcionando de teimosas. Delegacias e distritos abertos sem o contingente mínimo para realizar um trabalho à altura das necessidades da população.
O crime cada vez mais organizado só é combatido com eficácia por meio de investigações robustas de provas. Este é o papel da polícia judiciária, a Civil. Porém, com ela enfraquecida, até é possível o Governo se vangloriar de alguns números relacionados a prisões. No entanto, as prisões devem vir acompanhadas de inquéritos policiais sólidos, ou seja, não basta a quantidade, sendo primordial a qualidade das capturas.
Do contrário, quem é preso hoje, amanhã tem a grande probabilidade de ser absolvido e retornar a delinquir, devido a uma investigação sem a solidez necessária para um decreto condenatório.
Começamos com uma comparação e terminamos com outra. A Polícia Civil de São Paulo é um doente na Unidade de Terapia Intensiva e respira por aparelhos. Mas a vontade política do médico ainda é capaz de salvá-la com um choque de gestão. Só é necessário querer e agir antes que ela acabe…
Por Eduardo Velozo Fuccia – Repórter criminal do jornal A Tribuna (Santos), advogado e responsável pelo site jurídico http://vadenews.com.br/